Modelo de rotulagem em análise na Anvisa não tem validação científicaPor João Peres, do O Joio e o Trigo26 de abr. de 20182 min de leituraNutriScore, adotado pela França no ano passado, foi alterado pela associação que o apresentou no debate sobre rotulagem frontal de alimentos Um dos modelos de rotulagem frontal de alimentos em análise pela Anvisa não passou por validação científica.O NutriScore, adotado pela França em outubro do ano passado, foi apresentado no Brasil pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), mas com alterações em relação ao modelo original.O sistema classifica os alimentos de A a E, nota que representa uma síntese do cruzamento de elementos negativos (calorias, sal, gorduras e açúcares) e positivos (frutas, vegetais, legumes e oleaginosas; fibras; proteínas).A rotulagem frontal é entendida como um dos fatores que podem guiar as pessoas em direção a alimentos mais saudáveis, ajudando a frear a epidemia global de obesidadeAo apresentar esse modelo à Anvisa, em 20 de fevereiro, a Abran fez uma alteração que à primeira vista pode parecer sutil: a sugestão é de que os rótulos tragam, além da nota geral, uma nota específica para cada um desses sete itens. “Isso permite que o consumidor exerça sua interpretação pessoal, que se somará àquela feita pela agência reguladora”, alega a associação no documento protocolado na Anvisa.Conversamos com quatro especialistas em questões regulatórias. Três deles estão envolvidos com a definição de modelos de rotulagem frontal de alimentos no Brasil e no exterior. Todos foram enfáticos de que a mudança introduzida pela Abran invalida as evidências científicas colhidas até aqui em torno do NutriScore.O princípio de oferecer mais informações pode parecer uma boa ideia. Mas é algo que precisa ser testado cientificamente. A princípio, a soma de um campo de interpretação contraria a ideia-chave do NutriScore, que é oferecer uma síntese. Os testes realizados na Europa indicaram que a efetividade do sistema reside exatamente na facilidade de comparar produtos.Pode-se dizer que a simples adição de um campo de informação não altera a questão básica: quem quiser poderá se ater apenas à nota de A a E. Mas, entre o NutriScore original e o alterado, qual melhor ajuda a promover escolhas? Esse novo campo de informação se mostrou útil, ou é algo que será ignorado pelas pessoas – ou, pior, provocará confusão?Embora a discussão sobre a rotulagem frontal seja relativamente recente, existem alguns pressupostos inerentes a qualquer modelo. Já é consenso que as escolhas de cada produto são feitas em pouquíssimos segundos. E que quanto mais simples o modelo, maior a chance de ser efetivo.Vamos explicar um pouco mais por que o que parece simples é muito complexo quando estamos falando de rotulagem. Em relação aos quatro itens negativos, o NutriScore prevê uma nota de zero a dez. Os três elementos positivos recebem uma nota de zero a cinco. Ou seja, considerando apenas um produto, estamos falando de 527.076 combinações diferentes de notas.Se você quisesse escolher entre três produtos, precisaria logo de cara cruzar milhões de combinações possíveis. Ainda que você decidisse se ater a um item, como o açúcar, estaríamos falando de 1.331 combinações. É difícil imaginar que isso possa ser processado em questão de segundos. CLIQUE AQUI PARA O DOCUMENTO E A MATÉRIA COMPLETA
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